A vitamina D é uma das mais estudadas e pesquisadas há vários anos em relação a saúde das pessoas. Existem estudos mostrando que níveis sanguíneos normais dessa vitamina tem efeitos positivos na tuberculose, AIDS, COVID-19, gripe, sepse, hepatite viral, dengue e câncer, refletindo em melhor resposta ao tratamento, menos complicações e menor número de óbitos.
Apesar de várias vitaminas e micronutrientes terem sido estudados nos pacientes com câncer, nenhuma mostrou resultados tão promissores quanto a vitamina D. A vitamina D, considerada um pré-hormônio por muitos pesquisadores, age na regulação do cálcio e do metabolismo ósseo, juntamente com o paratormônio.
Ela está presente em fontes alimentares, como peixes, ovos, cogumelos, entre outros, sendo convertida na pele pela ação dos raios UVB na forma de ergocalciferol (D2) em colecalciferol (D3). Portanto, sua absorção depende de uma alimentação saudável e de uma adequada exposição solar. No Brasil, temos uma alta incidência de câncer de pele, logo a exposição solar requer cuidados como o uso de protetor solar, cuja ação reduz a conversão da vitamina D, porém deve ser usado como um importante fator de prevenção nesse tipo de câncer.
A deficiência de vitamina D está presente em todo o mundo, atingindo 90% da população em alguns lugares. Os principais grupos de risco para essa deficiência são os idosos, pessoas com mais de 60 anos, cuja capacidade cutânea de converter está reduzida; os obesos, pessoas com índice de massa corporal > 30 kg/m2, porque ela é sequestrada pelo tecido gorduroso; e pessoas da raça negra, porque a melanina em maior quantidade na pele delas dificulta a conversão dessa vitamina.
No Brasil, apesar de termos sol o ano inteiro, há cada vez mais pessoas com deficiência de vitamina D. Isso pode estar associado ao aumento do número de obesos e idosos, respectiva e aproximadamente, 41 milhões e 38 milhões de brasileiros, como também ao uso do protetor solar e menor exposição solar diária.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o diagnóstico de deficiência de vitamina D varia de acordo com o grupo de pessoas e ocorre da seguinte forma:
1. ≥ 20 ng/ml é o desejável para população geral saudável;
2. Entre 30 e 60 ng/ml é o recomendado para grupos de risco, como idosos, gestantes, pacientes com osteomalácia, raquitismos, osteoporose, hiperparatireoidismo secundário, doenças inflamatórias, doenças autoimunes e renal crônica e pré-bariátricos;
3. Entre 10 e 20 ng/ml é considerado baixo, com risco de aumentar a remodelação óssea e, com isso, perda de massa óssea, além do risco de osteoporose e fraturas;
4. ≤ 10 ng/ml é muito baixo e com risco de evoluir com defeito na mineralização óssea, como a osteomalácia, e raquitismo.
No pessoa com câncer a quimioterapia reduz a absorção de vitamina D pelo sistema digestivo, isso também ocorre quando há uma cirurgia do trato gastrointestinal onde há retirada de parte dele por causa do tumor. Além disso, essas pessoas são orientadas há uma menor exposição solar e tem dificuldade em comer adequadamente, daí tem menor absorção da vitamina.
Embora existam estudos falando que níveis séricos de vitamina D ≥ 40 ng/ml previnam alguns tipos de câncer, isso não é um consenso, porque não ocorre em todos os estudos científicos. A maioria dos estudos demonstram que ela está envolvida no aumento da sensibilidade tumoral à quimio e à radioterapia, contribuindo com uma maior resposta ao tratamento e aumento de sobrevida.
Essa ação positiva da vitamina D no paciente oncológico ocorre porque ela inibe a carcinogênese, retarda a progressão tumoral, promove a diferenciação celular, inibe a proliferação de células cancerosas, tem efeitos anti-inflamatórios, imunomoduladores, pró-apoptóticos e anti-angiogênicos, diminui a capacidade de invasão do tumor e a propensão para metástase.
Em termos de suplementação de vitamina D nos pacientes oncológicos 2 pesquisas se destacaram no Congresso Americano de Oncologia Clínica, um dos mais respeitados do mundo. O primeiro estudo demonstrou que pacientes com câncer de colón metastático suplementados com vitamina D tiveram uma sobrevida maior do que quem não tomou a vitamina. O segundo, um estudo com 79 mil pacientes com câncer, acompanhados por quatro anos, encontrou um aumento na sobrevida nos doentes que receberam suplementação de vitamina D. Nesse último
estudo, o pesquisador principal aconselha os oncologistas a suplementarem vitamina D para seus pacientes.
Um outro problema associado ao tratamento e ao próprio câncer é a perda de massa óssea, estudo com mulheres com câncer de mama suplementadas com vitamina D mostrou uma menor perda óssea. Isso ocorre porque a vitamina D tem um papel importante no metabolismo ósseo.
Embora a vitamina D mostre resultados muito interessantes para o paciente oncológico, a sua suplementação deve ser orientada pelo médico e pela equipe oncológica. Tanto para o câncer quanto para o COVID-19, muitas pessoas começaram a tomar quantidades muito altas dessa vitamina por conta própria, apresentando problemas com intoxicação, podendo levar a insuficiência renal e internação.
Portanto, o primeiro passo é a sua dosagem em exames de sangue no diagnóstico do câncer, a partir desse resultado o médico decidirá sobre a necessidade de prescrever ou não a vitamina D. Além disso, o uso da vitamina D não exclui o tratamento usual do câncer, ele pode ser uma ferramenta de auxílio, não como cura.
Concluindo, a vitamina D pode ser usada em pacientes oncológicos, tendo resultados positivos na sobrevida, na resposta ao tratamento e na perda de massa óssea. Porém, a sua suplementação deve ser acompanhada sempre pelo médico, porque depende dos seus níveis sanguíneos e diagnóstico de deficiência. Converse sempre com o seu médico antes de tomar qualquer vitamina.
Referências:
1. Maeda S et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose DArq Bras Endocrinol Metab. 2014;58/5
2. Vaughan-Shaw VG et al. The effect of vitamin D supplementation on survival in patients with colorectal cancer: systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Brit J Cancer 2020; 123:1705–1712
3. Chandler PD et al. Effect of Vitamin D3 Supplements on Development of Advanced Cancer. JAMA Network Open. 2020;3(11):e2025850
4. Akutsu T et al. Vitamin D and Cancer Survival: Does Vitamin D Supplementation Improve the Survival of Patients with Cancer. Curr Oncol Reports 2020: 22:62
Artigo publicado na FolhaMed no dia 08 de setembro de 2021
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